quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ficções Políticas 1

Roberto Uribe Ibañez era ministro de um país da América Latina. Além de ter a particularidade de pertencer a um Órgão, que se reunia secretamente, debatia assuntos políticos e que se considerava como tendo uma superioridade moral e ética sobre todas as outras coisas, o ministro tinha uma especial dedicação pela filha. Antes de aceitar o cargo, Ibañez pegava no seu carro, comprado com as facilidades que a vida lhe deu, e tratava de transportar a menina até à Escola de Artes. Apesar da futura artista já ser suficientemente crescida para se orientar pelas ruas da Cidade Grande. Por sinal, a Cidade não era tão grande. O País até tinha uma maior.
E foi para essa Cidade Maior que Roberto Uribe Ibañez foi viver quando aceitou o cargo de ministro, uma tarefa há muito reivindicada nas secretas reuniões do Órgão a que pertencia. O tal da superioridade moral e ética.
Mas com o novo cargo, o sensível Ibañez deixou de ter tempo para transportar a filha. Daí que tenha pensado e melhor agido: poderia dispensar o seu carro oficial, atribuído devido às suas funções, uma manhã que fosse, para levar a menina a tão prazenteiro ensino. Com uma simples ordem, lá encarregou o seu motorista de tão patriótica tarefa. Nem se incomodou pelo facto de entre a Cidade Maior e a Cidade Grande haver uma distância de pouco mais de 300 quilómetros.
Tantas vezes a rotina foi cumprida que o motorista, requisitado num dos serviços tutelado pelo ministro, cansou-se das viagens e recusou fazer uma delas com o argumento que a sua função não era definitivamente aquela.
O ministro, educado nas mais belas e honradas e éticas escolas do seu Órgão, dispensou o motorista, devolvendo-o à procedência.
O motorista, timidamente, ainda contou a estranha história a quem o quis ouvir, mas, de repente, lembrou-se que Ibañez tinha uma forte e superior educação ética e moral. Resolveu ficar calado. Até porque o motorista pertencia a uma das entidades, daquelas que garantem que os ministros, os filhos e o povo em geral durmam em segurança, mas tutelada por Ibañez.
A coragem não teve arcaboiço de enfrentar o Órgão.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei.
Espero por mais deste nével para lhe enviar uma propina para o kompensar dos gastos com Obama et all.
Abraço.