terça-feira, 21 de outubro de 2008

Barroso e a semântica do capitalismo

Depois de vergarem os Estados Unidos à força dos seus argumentos, Nicolas Sarkozy e Durão Barroso foram hoje explicar ao Parlamento Europeu a necessidade de refundar os alicerces do sistema para evitar a repetição de crises como a actual.

Independentemente das motivações profundas de cada um, se é que as há, não deixa de ser curioso reparar na diferença de linguagem.

Sarkozy fala em “refundação do capitalismo mundial, o que aconteceu representa a traição dos valores do capitalismo”.

Barroso prefere referir-se à “reforma fundamental do sistema financeiro global”.

Alertado para a diferença de registo, o ex-primeiro-ministro e ex-revolucionário português esclareceu que a mesma não se devia meramente a uma questão de semântica:

“A expressão ‘capitalismo’ em português, pelo menos para mim, tem um conteúdo nem sempre muito simpático, eu prefiro falar de economia de mercado, porque a questão de ‘capitalismo’ faz-me lembrar tempos de grande polarização ideológica e eu penso que neste momento não é tanto a questão ideológica que deve dominar, é sobretudo encontrarmos uma solução concreta para problemas concretos.”

Que é como quem diz, vamos lá esquecer esses episódios.

Mesmo assim, não se livrou do remoque de um socialista alemão que, ao ouvir Durão enaltecer as virtudes do mundo novo que deve renascer da crise, não resistiu a tecer-lhe um rasgado elogio com memória: “o senhor recorda aqui o seu passado maoísta e fala como um verdadeiro homem de esquerda”.


1 comentário:

Anónimo disse...

O passado maoista de barroso deve ser lembrado não tanto para lembrar que o homem já foi de "esquerda", mas para lembrar que as suas palavras nunca o definiram. São as suas acções que contam.
É que "o maoista" Zé Manuel e o primeiro-ministro "social-democrata" Durão Barroso partilharam sempre o mesmo percurso de acção: agiram sempre contra a revolução portuguesa e ao serviço da CIA.
E hoje, "o nosso homem na UE" como o terá definido Kissinger, continua a servir os mesmos interesses de classe.
MG