Cada vez que o Presidente da República fala, logo se mobiliza um importante exercício de interpretação das suas palavras. Mais do que alguém que diz umas coisas, do género “concordo com isto…”, “não gosto daquilo…”, Cavaco assumiu um estilo que se situa algures entre o Oráculo de Delfos, a que não faltam as respectivas pitonisas para transmitir e ajudar a interpretar a mensagem, e o horóscopo de jornal, que cada um interpreta como lhe convém (em que o “acontecimento importante” anunciado para a semana seguinte tanto pode ser encontrar 5 euros, como pisar cocó de cão, tudo na mesma rua).
Felizmente há quem domine quase na perfeição a nobre arte de decifrar Cavaco, um exercício já conhecido como Cavacologia e que deverá brevemente começar a ser leccionado numa universidade privada perto de si.
O Público de hoje explica que o presidente enviou mensagens sobre investimento público ao governo “de forma subliminar”, sublinhando que Cavaco “levava a lição bem estudada” (o que, sendo ele professor, não deveria surpreender, mas nos dias que correm temos que estar preparados para tudo). É que Cavaco “conseguiu encontrar facilmente uma ligação entre o museu (que inaugurava em Penafiel) e os problemas que o país enfrenta” (aplausos). E, a partir daí, enumerou dois desafios “cuja problematização é um verdadeiro programa alternativo de governação”, garante quem assistiu, claramente deslumbrado, ao exercício.
Como Cavaco “não enumerou os investimentos cuja análise custo/benefício coloca em causa” (ou não se tratasse de uma mensagem subliminar), uma pitonisa (identificada como “um responsável do seu gabinete”) desafiou o jornal a "decifrar aqueles que não se adequam ao momento que vivemos". O desafio foi aceite e, depois de longa reflexão, chegou a conclusão no estilo factual que deve marcar a actividade jornalística: “E, sendo assim, é bem provável que estivesse a pensar no TGV, no novo aeroporto e em algumas auto-estradas”.
Ora, sendo assim, é bem provável que quando falou com a boca cheia de bolo-rei, Cavaco estivesse a denunciar os atentados à liberdade de expressão (ou simplesmente engasgado com a fava e/ou o brinde). E que quando disse que o Freeport era “um assunto de Estado”, é bem provável que estivesse a pensar noutra coisa qualquer. Mas isto são apenas interpretações de um candidato a uma licenciatura em cavacologia.
Felizmente há quem domine quase na perfeição a nobre arte de decifrar Cavaco, um exercício já conhecido como Cavacologia e que deverá brevemente começar a ser leccionado numa universidade privada perto de si.
O Público de hoje explica que o presidente enviou mensagens sobre investimento público ao governo “de forma subliminar”, sublinhando que Cavaco “levava a lição bem estudada” (o que, sendo ele professor, não deveria surpreender, mas nos dias que correm temos que estar preparados para tudo). É que Cavaco “conseguiu encontrar facilmente uma ligação entre o museu (que inaugurava em Penafiel) e os problemas que o país enfrenta” (aplausos). E, a partir daí, enumerou dois desafios “cuja problematização é um verdadeiro programa alternativo de governação”, garante quem assistiu, claramente deslumbrado, ao exercício.
Como Cavaco “não enumerou os investimentos cuja análise custo/benefício coloca em causa” (ou não se tratasse de uma mensagem subliminar), uma pitonisa (identificada como “um responsável do seu gabinete”) desafiou o jornal a "decifrar aqueles que não se adequam ao momento que vivemos". O desafio foi aceite e, depois de longa reflexão, chegou a conclusão no estilo factual que deve marcar a actividade jornalística: “E, sendo assim, é bem provável que estivesse a pensar no TGV, no novo aeroporto e em algumas auto-estradas”.
Ora, sendo assim, é bem provável que quando falou com a boca cheia de bolo-rei, Cavaco estivesse a denunciar os atentados à liberdade de expressão (ou simplesmente engasgado com a fava e/ou o brinde). E que quando disse que o Freeport era “um assunto de Estado”, é bem provável que estivesse a pensar noutra coisa qualquer. Mas isto são apenas interpretações de um candidato a uma licenciatura em cavacologia.
9 comentários:
Este texto, caro Daniel Rosário é um bocadinho indigente, mas enfim, nada de especial (nunca fui cavaquista, o que me deixa ainda mais à-vontade para o dizer).
Há contudo um ponto no qual o acho verdadeiramente pobre: é a história do bolo-rei. Mande esse episódio para onde ele pertence: o anedotário político nacional. Não o use para fundamentar opinões sobre o homem. É que há argumentos que são piores para quem os usa do que para quem por eles é visado, não acha?
Caro Luís,
não, por acaso não acho. pelo menos em relação a este caso. e só o facto de o episódio pasteleiro ainda irritar alguém justifica que continuemos a recordá-lo.
de resto, o que me parece verdadeiramente indigente são as tentativas desesperadas, forçadas e por vezes ridículas de muito boa gente (cavaquistas ou não)de tentar dar um sentido superior e um alcance profundíssimo a cada coisa que o PR diga, por muito banal ou vazia que seja (que, como qualquer mortal, ele também diz de quando em vez).
era a esses que o texto era dirigido. se isso não era claro, então não era só o texto que era indidigente.
Deduzo portanto que faço parte dos indigentes para quem o superior sentido do texto não foi imediatamente claro. Mea culpa, mea maxima culpa.
Acontece infelizmente que nunca, a ninguém, atribuo "um sentido superior e um alcance profundíssimo a cada coisa que [o PR] diga, por muito banal ou vazia que seja (que, como qualquer mortal, ele também diz de quando em vez)"; seja PR, Papa, Obama, Guru Maharavi, Bono, etc. (deve ser por isso que o sentido do texto me escapou, pobre de mim: não gastaria nem 5 caracteres com tais e tão ululantes óbvios).
Infelizmente, parece-me que continuar a usar um micro-epifenómeno de há 250 anos para atacar o homem pode significar uma de duas coisas, ou até mesmo ambas: que não se vê nele nada de mais actual e mais relevante a criticar - e sabe Deus se as há - ou que uma boca mal aberta no mau momento nos marca mais do que coisas mais importantes, sintoma do classismo pacóvio de muita da nossa imprensa).
Enfim, repare, caro Daniel, nada de muito grave.
Caro Luís,
Deduz quase tudo bem. Principalmente quando conclui que nada disto é grave.
Se eu quisesse “atacar o homem” com o bolo, tinha ido buscar as imagens do micro-epifenómeno ao youtube. Aliás, basta escrever “cavaco bolo rei” que elas aparecem (aproveitei e fui ver, para matar saudades).
O objecto do post não era tanto ele, mas sim os cavacólogos de serviço. OK, ele também, um bocadinho. Por alimentar essa ciência.
O episódio do bolo surgiu apenas como um desafio a essas pitonisas, dispostas a descobrir uma revelação em qualquer gesto ou frase do PR, juntamente com a referência ao Freeport (essa, presumo, dentro do prazo de validade, certo?).
Porque motivos para “atacar o homem” não faltam, passados e presentes. Ao pé dos quais o inesquecível episódio do bolo-rei é apenas isso: um episódio.
Fico contente, caro Daniel, por estarmos de acordo quanto à relativa importância disto; e também por ter acertado a maior parte das minhas deduções. Acabo a pensar num magnífico aforismo sobre os anões, segundo o qual "os anões têm uma espécie de sexto sentido que lhes permite reconhecerem-se entre eles ao primerio olhar".
Um pequeno (ou não?)esclarecimento.
O Luis Serpa é o "galerista" ou "marchand de arte"?
Realmente há mais maris na Terra.
Mas é só um pequeno detalhe sem importância.
Quem me ajuda?
Não, não sou. Nem o galerista, nem o arquitecto, nem o funcionário da Unicre.
prometo que se vir algum anão, aviso-o.
Se arranjarem mais quatro "me apunto"! Ainda alguém há-de fazer um estudo sobre os picanços na blogosfera.
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