segunda-feira, 12 de julho de 2010

Cavaco, o "angolano", em visita de apoteose

A visita de Cavaco Silva a Angola vai ser, antes de mais, um “corolário” da sua carreira política. Em Luanda, é visto como um amigo “para a vida”, numa amizade que chegou a ser crucial para o actual regime angolano.
Quando o PSD ganhou as eleições, em 1985, José Eduardo dos Santos foi o primeiro chefe de Estado a enviar um telegrama, felicitando essa vitória. Mal terminou a cerimónia de posse do primeiro governo de Cavaco Silva, Lisboa recebia um convite formal do presidente José Eduardo dos Santos para que Portugal se fizesse representar nas cerimónias oficiais que assinalavam mais um aniversário da independência.
Em 10 anos, era a primeira vez que as autoridades de Luanda manifestavam, com dois gestos, uma abertura a Lisboa que nos anos anteriores tinha sido impossível de alcançar. Mas não foi unicamente a intenção de Luanda que provocou os gestos de José Eduardo dos Santos. Mesmo antes de chegar ao poder, Cavaco Silva vinha manifestando a vontade de alterar substancialmente as relações entre os dois países e, de uma forma geral, o relacionamento com os países africanos de expressão portuguesa. A “marca” que se viria a colar-lhe à pele, de ser um pragmático, serviria também nas questões internacionais, em particular, com Angola. A postura de Cavaco Silva constituiu, na política portuguesa, uma absoluta novidade e causou uma ruptura das políticas anteriores. E que viria a ter o seu auge na liderança de Lisboa no processo de paz alcançado em Angola, com a assinatura dos acordos de Bicesse.
Como ninguém, Cavaco Silva soube capitalizar essa política: além de ter um papel principal, entre os actores que influenciavam a política angolana, o actual presidente português foi um dos principais responsáveis pelo regresso dos empresários a Angola, com os benefícios que hoje se conhece, pelo significativo aumento nas relações comerciais entre os dois países e pelo desanuviamento das relações com os EUA.
Além disso, essa mesma política serviu para lançar o nome de Durão Barroso como um grande estadista. Curiosamente, o actual presidente da Comissão Europeia foi apenas o executor – mas com mérito – da estratégia desenhada por Cavaco Silva e respectivos assessores, em que se destacavam os embaixadores António Monteiro e Martins da Cruz.
Se por um lado, Cavaco Silva ajudou na projecção de Durão Barroso, por outro, o presidente português foi um extraordinário aliado para o MPLA: primeiro, no fim ao apoio à UNITA e na condenação do regime sul-africano, em tempos de guerra, mas sobretudo na influência que exerceu os EUA, que iria terminar no estabelecimento de relações diplomáticas sólidas com Angola.
Seguindo a mesma lógica, Cavaco Silva viaja para Angola com o pragmatismo na lapela: espera ser “coroado”, mas aproveita para levar uma longa comitiva de empresários - são 100 - a enfatizando a necessidade de serem aprofundadas as relações comerciais e empresariais entre Angola e Portugal.
Em Luanda, Cavaco Silva vai encontrar uma “passerelle” de políticos dispostos a estender-lhe o tapete vermelho, como já contei aqui, mas não lhe prestam vassalagem. Angola sempre tem exigido igualdade de oportunidades e boa vontade na entrada de angolanos nas empresas portuguesas. O que até agora tem acontecido, mas com timidez. E, de novo, essa é a questão central que vai estar em cima da mesa e que foi sublinhada por José Eduardo dos Santos na visita oficial que fez a Portugal, o ano passado. Afinal, Luanda tem nos negócios o “alfa” e o “ómega” de toda a sua estratégia. Em tempos de crise, Cavaco Silva vai ser, desta vez, apenas mais um catalisador de umas relações que, depois de ele ter dado o mote, têm sido, de ano para ano, melhoradas.
*A análise completa da visita de Cavaco Silva pode ser lida aqui, na PNN

2 comentários:

Karocha disse...

Muito interessante!

A Minha Pátria é a língua Portuguesa disse...

Tão soba que é o kamba Kavaco, podia tratar dos pagamentos em atraso, dos vistos, da abertura de empresas, apenas e só, em nome da reciprocidade. (E da naturalização).
Que a política não divida, como divide há décadas, os falantes do português e de cultura lusa.
E não vejo que o Tuga Kavaco resolva a maka! Nem o mais velho senta os kambas!