domingo, 29 de maio de 2011

Fatalismo ibérico ou novo "território comanche"?

"Espanha é um país frustrado. (...) Espanha teve reis incapazes, aristocratas corruptos e bispos fanáticos. E a classe política é analfabeta e medíocre. Os jovens do meu país (...) ou aprendem inglês para sair de Espanha ou aprendem a fazer um 'cocktail' molotov".

Arturo Pérez Reverte, escritor e antigo jornalista, em entrevista ao jornal Público

terça-feira, 24 de maio de 2011

Quando o cheiro a poder emana de um ovo kinder

Nuno Morais Sarmento entrou na campanha do PSD para dar um abraço a Pedro Passos Coelho, levando esta sentença: "tenho a certeza de que Pedro Passos será o próximo primeiro-ministro". O antigo ministro de Durão Barroso deve estar agora num dilema: ou não gosta muito de Portugal ou tem uma fé inabalável na aprendizagem "fast-food" (como diria Manuel Maria Carrilho). O mesmo Morais Sarmento deu uma entrevista ao Jornal de Notícias, a 6 de novembro de 2010, em que não mostrava dúvidas sobre os atributos de Pedro Passos Coelho. Daí que tenha lançado estas pérolas:
"(PPC) teve o arrojo e coragem de aceitar um desafio para o qual, à partida, dificilmente reúne condições pessoais e políticas" (sobre ser PM)
"É difícil de acreditar que aos 46 anos Passos Coelho não tenha nenhuma obra para mostrar"
"A táctica (de PPC) é absolutamente gratuita"
"É desprestigiante para o PSD o caminho que está a fazer. É errado e estúpido"
E, para terminar, a cereja em cima do bolo de Passos Coelho:
"Ainda é um ovo Kinder. Não tem provas dadas".
Falta agora perceber as verdadeiras intenções de Nuno Morais Sarmento para este zigue-zague. Deve estar a aquecer alguma cadeira a pensar no dia 6.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Fome para o almoço

Além de assistirem a um comício de José Sócrates, em Évora, os imigrantes - paquistaneses, indianos, chineses e africanos -, arregimentados em autocarros, tiveram direito a um almoço, como aliás as televisões trataram de reportar com detalhes. Foi uma sorte, no fundo. No dia anterior, já tinham estado em Beja, mas tiveram azar: só havia carne para a refeição! Muitos deles passaram fome.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Andamos a discutir pintassilgos obscuros

Eduardo Catroga acusou, esta noite, em entrevista à SIC-Notícias, os jornalistas de ignorarem as verdadeiras questões que devem preocupar o país:
"(...) a discutir as grandes questões que podem mudar o país, andam a discutir, passe a expressão, pintelhos".
É difícil perceber o que exatamente o putativo ministro das Finanças quis dizer. Para quem não perceba esta linguagem política, "pintelho", de acordo com o Dicionário da Bertrand, de Cândido Figueiredo, é uma "espécie de pintassilgo (puffinus obscurus)".

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O CDS já garantiu um "ministério"

Pedro Passos Coelho anda, há dias, a clamar que não pretende fazer qualquer coligação ou acordo com o PS. Aliás, repetiu-o vezes sem conta: "ou eles ou nós". É sabido que é impossível qualquer entendimento com o PCP ou com o Bloco de Esquerda. Resta portanto o CDS que o próprio líder social-democrata reconhece ser o parceiro ideal. Esta noite, em Guimarães, Passos Coelho definiu, numa única frase, o papel de cada um:
"Quero uma maioria clara que não pode ficar dependente de nenhum pau de cabeleira".
Num futuro governo reduzido, haverá lugar para um ministro que segure na vela?

domingo, 8 de maio de 2011

A mão que embala (ou) as revoltas no Magrebe

A organização radical islâmica do Magrebe, ou melhor, a Al-Qaida no Magrebe Islâmico (AQMI) resolveu revelar que, afinal, esteve por detrás das revoltas no Egito e na Tunísia. Nada de novo para quem minimamente anda atento às actividades dos radicais islâmicos. Por aqui, por este blogue, já se tinha adivinhado qualquer coisa do género aqui e aqui. As garras, há muito, que estão afiadas. Mas há líderes políticos, de Portugal aos Estados Unidos, passando por França e Itália, que teimam em não entender isso. Ou então entendem bem demais e encolhem os ombros.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um governo pior do que Sporting ou a confissão de um ministro

Na noite das eleições no Sporting - as tais que resultaram em ameaças de impugnação e numa mini-batalha campal - José Sócrates estava no estrangeiro. Ainda assim, preocupado com o que se passava em Portugal, mandou um sms para um dos seus ministros, sportinguista convicto, a perguntar se o seu clube "precisava da ajuda do FMI".
Resposta do ministro:
- Não. Nós somos capazes de resolver internamente os nossos problemas.
Lendo bem, fica-se a saber que há um ministro que acha que o Sporting é capaz de resolver "internamente" os seus problemas. Isto foi em Março. O FMI chegou para resolver os problemas de um governo que não é (foi) capaz de ser como o Sporting. E o ministro tem mais confiança no clube que no governo.
Att: a estória do sms foi contada pelo próprio José Sócrates no programa "5 para a Meia-Noite".

quinta-feira, 5 de maio de 2011

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Fontes e fontanários

As medidas que, afinal, não fazem parte do pacote de ajustamento negociado entre Portugal e a troika, correspondem mais ou menos às notícias, muitas vezes em manchete, que vários jornais, televisões e rádios foram anunciando ao longo das últimas semanas sobre os planos da troika para Portugal.

Toda a gente teve acesso a informação privilegiada de “fontes” ligadas às negociações ou, muitas vezes, rematada com o ainda mais tranquilizador, “o XXX sabe”, ou “o XXX apurou”, ou muitas outras vezes, sem qualquer referência ou mera alusão acerca da respectiva origem. O XXX sabe e publica, logo, o leitor pode acreditar à vontade.

Pena que a esmagadora maioria dessas informações se tenha revelado falsa. Como a que ainda ontem, dia em que se dava como certo o fim das negociações, antecipava cortes nas pensões a partir de 600 euros, ou a que garantia que o valor da ajuda seria de 105 mil milhões de euros, muito longe dos 75-80 mil milhões avançados por diferentes responsáveis europeus. Isto no mesmo dia em que outro jornal atirou para o ar o número de 60 mil milhões de euros. Tudo em televisões e jornais de referência, claro.

E sobra sempre a explicação de que, apesar de muitas dessas informações não terem batido certo com a realidade, na altura em que o XXX as publicou, elas estavam mesmo em cima da mesa das negociações, mas as coisas entretanto evoluíram… Sobretudo é preciso evitar que a realidade possa estragar uma boa estória.

Não se percebe se é a necessidade de mostrar serviço às chefias e administrações, vender papel e insuflar audiências, ou a vontade de agradar às ditas fontes, que se sobrepuseram à necessidade de rigor, de cruzar informações ou de simples bom senso. Ainda por cima tendo em conta o clima eleitoral em que tudo isto acontece(u) e o interesse redobrado dos vários protagonistas/fontes veicularem as suas teses ou difundirem os seus boatos (basta ver como PS e PSD tentam capitalizar com a dramatização anterior). É duvidoso que os jornalistas que escreveram essas informações e os jornais que as publicaram as tenham inventado (todas). Mas não é justificável que muitas vezes as tenham reproduzido de forma acrítica.

Certo é que o que foi feito não foi bom nem para o jornalismo, nem para o país. E, infelizmente, praticamente ninguém sai bem desta história.

Os habilidosos

O não-anúncio das medidas de austeridade associadas ao pedido de ajuda financeira, tal como feito na terça-feira à noite por José Sócrates, é como ir ao médico sabendo de antemão que se sofre de uma doença muito grave e ouvir o clínico desfiar todos os outros males, ainda mais graves, que não fazem parte da ficha clínica do paciente. É como explicar a um tuberculoso que tem todos os motivos para estar satisfeito, uma vez que não sofre da doença de Creutzfeldt-Jakob.

Mas cuidado com as segundas opiniões. Eduardo Catroga, que se fartou de escrever nas últimas semanas para se queixar do governo, que andava a omitir informação e a deixar o PSD de fora das negociações, vem agora reivindicar a paternidade do que há de “bom” no acordo. Neste mundo da medicina, o negociador do PSD é o clínico que tem a parede forrada de diplomas reluzentes, mas falsos e de universidades obscuras.

Deve ser a primeira vez que um governo anuncia um pacote de austeridade sem o anunciar, com a cumplicidade do partido da oposição que garante a implementação desse mesmo acordo. Mas tendo em conta que as eleições são daqui a um mês, afinal, quem os pode censurar… Espera-se que a conferência de imprensa da troika seja mais esclarecedora.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Antes vivo do que morto

O mais difícil com a morte de Osama bin Laden é não conseguir perceber a euforia que vai pelo mundo ocidental. E não conseguir encontrar razões por que gente avisada como funciona a Al-Qaida aplauda com entusiasmo o seu desaparecimento.
Vivo, bin Laden, há muito, que não tinha qualquer papel relevante na estrutura e na ação da organização que ele ajudou a criar. Era apenas um homem acossado, a fintar alguns agentes dos Serviços Secretos paquistaneses que não simpatizam com a Al-Qaida, a refugiar-se em casas no único país que, de facto, o poderia acolher, a viver com medo da própria sombra e sem sequer poder usar comunicações. A Al-Qaida, mesmo em menor escala, continou a funcionar da forma como foi idealizada pelo seu "pai", o egípcio Sayyid Qutb, e colocada em prática por bin Laden: a exportar a "revolução", apoiando, com gente e com dinheiro, organizações terroristas islâmicas pelo mundo.
Morto, bin Laden transformou-se num herói, num mártir e, acima de tudo, numa razão acrescida para mais atentados. A vingança será um prato poderá ser servido banhado de sangue. Bin Laden, morto, vai conseguir acender mais a fé radical islâmica do que fez nestes últimos anos. A semente do radicalismo continua inamovível e até, nalguns casos, sempre a dar frutos: nas escolas e faculdadades islâmicas do Egito, nas 'madrassas' do Paquistão, nalgumas escolas e rádios da Tunísia, em muitas mesquistas da Bósnia, da Síria, do Iraque, da Nigéria, do Iémen...
Morto, bin Laden serve apenas para o mundo ocidental como um troféu, uma bandeira, um símbolo. E nada mais do que isso. O terrorismo islâmico não foi decapitado. Retiraram-lhe apenas o alfinete da lapela. E nem sequer conseguiram sugar-lhe o espírito.