Há uns anos, quando Pacheco Pereira recusava respostas aos jornalistas para depois perorar na SIC, uma amiga minha dizia com toda a razão "pois, só fala com quem lhe paga !"
Marcelo Rebelo de Sousa era uma excepção. Muitas vezes - e para irritação de quem fazia o programa - não guardava para domingo o que podia dizer durante a semana ao microfone que lhe aparecia pela frente.
Vem isto a propósito da reacção de António José Seguro, sexta-feira passada, na Assembleia da Republica, aos jornalistas que o interpelaram sobre as novas medidas de austeridade do governo. Seguro faltara às reuniões da comissão política e do grupo parlamentar e pretendia-se conhecer a sua posição. "Já falei ontem na SIC-Noticias"...mas importa-se de repetir ?..."Veja a gravação da Sic-Noticias", acrescentou o deputado justificando as ausências com as aulas que tinha à mesma hora das reuniões.
Seguro sublinhou o compromisso que tinha com os seus alunos. E um compromisso com os eleitores que o elegeram, não terá ? Ou terão esses eleitores de ver a Sic-Noticias para conhecerem a posição do seu deputado ?
(Na véspera,tambem António Costa que recusara fazer declarações no final da comissão política, expôs na Quadratura do Círculo a sua opinião sobre as novas medidas.)
É óbvio que cada político fala sobre o que quer com quem quer e quando quer.
Mas ao limitar o seu discurso a
uma tribuna mediática paga, quando o interesse é geral, não estará o político apenas a condicionar a forma de transmissão da mensagem, dificultando o seu conhecimento por parte de quem o elegeu e com quem tem (ou deve ter) um compromisso maior ?