quarta-feira, 22 de junho de 2011

Dos independentes

Ninguém dá pior nome aos independentes do que os próprios independentes.

Depois de Fernando Nobre ter jurado a pés juntos que nunca (never! jamais!) aceitaria cargos políticos e partidários e ter acabado (ou começado) como se sabe, é a vez de Rui Tavares revelar o difícil que é ser independente (porque dizê-lo é relativamente simples).

Eleito pelo Bloco de Esquerda para o Parlamento Europeu, aproveita um desentendimento com o líder do partido para abandonar a respectiva delegação (que integrava na qualidade de “independente”, como o próprio não se cansava de sublinhar”) e anunciar que passa à condição de “deputado independente, integrado no grupo dos Verdes europeus”.

Uma decisão tomada por, passados três dias, Francisco Louçã ainda não lhe ter apresentado um (devido) pedido de desculpas por o ter associado a informações erróneas sobre a génese do Bloco.

O pretexto da sua saída parece ser precisamente isso, um pretexto. Porque acontece numa altura em que o Bloco atravessa a sua maior crise. E sobretudo porque, para poder anunciar no próprio dia em que sai do grupo do Bloco no PE (a Esquerda Unitária Europeia) que passa a integrar os Verdes, significa que estaria a negociar com estes últimos há bem mais de três dias. O que o próprio co-presidente dos Verdes, Daniel Cohn-Bendit, confirmou.

Além de que, podendo ou não concordar com isso, Tavares foi eleito por um partido e não individualmente. Pelo que seria da elementar decência que colocasse o lugar à disposição do partido que o elegeu.

Aliás, “independentes” é coisa que não falta no PE. O seu colega socialista romeno Adrian Severin foi recentemente expulso do respectivo partido e grupo depois de um jornal ter revelado que aceitara modificar propostas legislativas do PE a troco de dinheiro (que não chegou a receber), mas ficou agarrado que nem uma lapa ao cargo de eurodeputado, agora como “independente”, claro.

No fundo, esta forma de ser “independente” é apenas uma maneira de não assumir qualquer compromisso (seja com um partido, seja com o eleitorado) e de poder tomar em proveito próprio a decisão que mais convém em cada momento.

E assim cresce a confiança dos portugueses no sistema político, em geral, e na classe política, em particular.

1 comentário:

Humberto disse...

E ainda por cima os "independente" são usados, e usam-se, exactamente para descredibilizar os políticos "dependentes".
Aliás agora até já há ministros independentes, como se não estivessem dependentes dum Primeiro ou de um Parlamento...