quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A verdade e o jornalismo

Numa discussão, em final de turno, na TSF, por causa das notícias que foram - e as que não -dadas, ouve-se esta frase do editor, João Paulo Baltazar:

"Eu acredito na verdade. Mas só se chega à verdade ouvindo todas as versões"

Depois de lhe pedir autorização para o citar, ele próprio tratou de lembrar que, no jornalismo, a frase é uma simples evidência. E é. Pois, mas há, por aí, muito sítio que acham que a evidência afinal é um mero... capricho.

3 comentários:

Anónimo disse...

"Eu acredito na verdade...".

Ora vejamos... deixa lá ver se isto é mesmo o que parece.

Eu acredito, logo, se acredito, não estou bem certo de não estar enganado, e se, ainda por cima, acredito na verdade, logo imponha ramificações à verdade que a colocam em causa, porque se assim não fosse não precisava acreditar pela evidência de ser... verdade!.

Mas o pior nem é isto, o pior é quando um jornalista acha que ouvir versões tem por fim nobre encontrar a verdade.

Nada de mais errado e esse é o maior problema do jornalismo de hoje.

Ouvem-se versões não para encontrar a verdade mas para dar espaço aos protagonistas de poderem mentir no espaço que lhes é devido pela necessidade de não ser acusado de estar a defender uns em detrimento de outros.

Logo, a verdade é uma impossibilidade no jornalismo, excepto naquele em que se recusam versões, embora isso leve a correr sérios riscos...

Já acharia melhor, muito melhor, dizer algo como isto: "estou-me merimbando para a verdade, porque a verdade é a mais velhaca das estacas onde se pendura a falcatrua ao abrigo de patéticos códigos de honra. O que me interessa, como jornalista, é ser bom a perceber quem merece ter palavra num determinado assunto, dar-lha, e depois deixar que quem me lê ou ouve tire conclusões".

O resto, são versões ensimesmadas do medo que está a matar o jornalismo!!

Rita

Anónimo disse...

que chorrilho de inanidades, óh, Rita! nuno i

Anónimo disse...

A VERDADE, por Luís Fernando Veríssimo

Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margaridas.
O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:
- Agora me lembro, não era um homem, eram dois.
- E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem e o encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela disse:
- Então está com o terceiro!
Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram e encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela.
- Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo e a deixou desfalecida - gritaram os aldeões. - Matem-no!
- Esperem! - gritou o homem, no momento em que passavam a corda da forca pelo seu pescoço. - Eu não roubei o anel. Foi ela que me deu!
E apontou para a donzela, diante do escândalo de todos.
O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se aproximou dele e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira e pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo "Já que meus encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor". E ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra.
Todos se viraram contra a donzela e gritaram: "Rameira! Impura! Diaba!" e exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o seu pescoço.
Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:
- A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade?
O pescador deu de ombros e disse:
- A verdade é que eu achei o anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador.