"Espanha é um país frustrado. (...) Espanha teve reis incapazes, aristocratas corruptos e bispos fanáticos. E a classe política é analfabeta e medíocre. Os jovens do meu país (...) ou aprendem inglês para sair de Espanha ou aprendem a fazer um 'cocktail' molotov".
Arturo Pérez Reverte, escritor e antigo jornalista, em entrevista ao jornal Público
domingo, 29 de maio de 2011
terça-feira, 24 de maio de 2011
Quando o cheiro a poder emana de um ovo kinder
Nuno Morais Sarmento entrou na campanha do PSD para dar um abraço a Pedro Passos Coelho, levando esta sentença: "tenho a certeza de que Pedro Passos será o próximo primeiro-ministro". O antigo ministro de Durão Barroso deve estar agora num dilema: ou não gosta muito de Portugal ou tem uma fé inabalável na aprendizagem "fast-food" (como diria Manuel Maria Carrilho). O mesmo Morais Sarmento deu uma entrevista ao Jornal de Notícias, a 6 de novembro de 2010, em que não mostrava dúvidas sobre os atributos de Pedro Passos Coelho. Daí que tenha lançado estas pérolas:
"(PPC) teve o arrojo e coragem de aceitar um desafio para o qual, à partida, dificilmente reúne condições pessoais e políticas" (sobre ser PM)
"É difícil de acreditar que aos 46 anos Passos Coelho não tenha nenhuma obra para mostrar"
"A táctica (de PPC) é absolutamente gratuita"
"É desprestigiante para o PSD o caminho que está a fazer. É errado e estúpido"
E, para terminar, a cereja em cima do bolo de Passos Coelho:
"Ainda é um ovo Kinder. Não tem provas dadas".
Falta agora perceber as verdadeiras intenções de Nuno Morais Sarmento para este zigue-zague. Deve estar a aquecer alguma cadeira a pensar no dia 6.
"(PPC) teve o arrojo e coragem de aceitar um desafio para o qual, à partida, dificilmente reúne condições pessoais e políticas" (sobre ser PM)
"É difícil de acreditar que aos 46 anos Passos Coelho não tenha nenhuma obra para mostrar"
"A táctica (de PPC) é absolutamente gratuita"
"É desprestigiante para o PSD o caminho que está a fazer. É errado e estúpido"
E, para terminar, a cereja em cima do bolo de Passos Coelho:
"Ainda é um ovo Kinder. Não tem provas dadas".
Falta agora perceber as verdadeiras intenções de Nuno Morais Sarmento para este zigue-zague. Deve estar a aquecer alguma cadeira a pensar no dia 6.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Fome para o almoço
Além de assistirem a um comício de José Sócrates, em Évora, os imigrantes - paquistaneses, indianos, chineses e africanos -, arregimentados em autocarros, tiveram direito a um almoço, como aliás as televisões trataram de reportar com detalhes. Foi uma sorte, no fundo. No dia anterior, já tinham estado em Beja, mas tiveram azar: só havia carne para a refeição! Muitos deles passaram fome.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Andamos a discutir pintassilgos obscuros
Eduardo Catroga acusou, esta noite, em entrevista à SIC-Notícias, os jornalistas de ignorarem as verdadeiras questões que devem preocupar o país:
"(...) a discutir as grandes questões que podem mudar o país, andam a discutir, passe a expressão, pintelhos".
É difícil perceber o que exatamente o putativo ministro das Finanças quis dizer. Para quem não perceba esta linguagem política, "pintelho", de acordo com o Dicionário da Bertrand, de Cândido Figueiredo, é uma "espécie de pintassilgo (puffinus obscurus)".
"(...) a discutir as grandes questões que podem mudar o país, andam a discutir, passe a expressão, pintelhos".
É difícil perceber o que exatamente o putativo ministro das Finanças quis dizer. Para quem não perceba esta linguagem política, "pintelho", de acordo com o Dicionário da Bertrand, de Cândido Figueiredo, é uma "espécie de pintassilgo (puffinus obscurus)".
segunda-feira, 9 de maio de 2011
O CDS já garantiu um "ministério"
Pedro Passos Coelho anda, há dias, a clamar que não pretende fazer qualquer coligação ou acordo com o PS. Aliás, repetiu-o vezes sem conta: "ou eles ou nós". É sabido que é impossível qualquer entendimento com o PCP ou com o Bloco de Esquerda. Resta portanto o CDS que o próprio líder social-democrata reconhece ser o parceiro ideal. Esta noite, em Guimarães, Passos Coelho definiu, numa única frase, o papel de cada um:
"Quero uma maioria clara que não pode ficar dependente de nenhum pau de cabeleira".
Num futuro governo reduzido, haverá lugar para um ministro que segure na vela?
"Quero uma maioria clara que não pode ficar dependente de nenhum pau de cabeleira".
Num futuro governo reduzido, haverá lugar para um ministro que segure na vela?
domingo, 8 de maio de 2011
A mão que embala (ou) as revoltas no Magrebe
A organização radical islâmica do Magrebe, ou melhor, a Al-Qaida no Magrebe Islâmico (AQMI) resolveu revelar que, afinal, esteve por detrás das revoltas no Egito e na Tunísia. Nada de novo para quem minimamente anda atento às actividades dos radicais islâmicos. Por aqui, por este blogue, já se tinha adivinhado qualquer coisa do género aqui e aqui. As garras, há muito, que estão afiadas. Mas há líderes políticos, de Portugal aos Estados Unidos, passando por França e Itália, que teimam em não entender isso. Ou então entendem bem demais e encolhem os ombros.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Um governo pior do que Sporting ou a confissão de um ministro
Na noite das eleições no Sporting - as tais que resultaram em ameaças de impugnação e numa mini-batalha campal - José Sócrates estava no estrangeiro. Ainda assim, preocupado com o que se passava em Portugal, mandou um sms para um dos seus ministros, sportinguista convicto, a perguntar se o seu clube "precisava da ajuda do FMI".
Resposta do ministro:
- Não. Nós somos capazes de resolver internamente os nossos problemas.
Lendo bem, fica-se a saber que há um ministro que acha que o Sporting é capaz de resolver "internamente" os seus problemas. Isto foi em Março. O FMI chegou para resolver os problemas de um governo que não é (foi) capaz de ser como o Sporting. E o ministro tem mais confiança no clube que no governo.
Att: a estória do sms foi contada pelo próprio José Sócrates no programa "5 para a Meia-Noite".
Resposta do ministro:
- Não. Nós somos capazes de resolver internamente os nossos problemas.
Lendo bem, fica-se a saber que há um ministro que acha que o Sporting é capaz de resolver "internamente" os seus problemas. Isto foi em Março. O FMI chegou para resolver os problemas de um governo que não é (foi) capaz de ser como o Sporting. E o ministro tem mais confiança no clube que no governo.
Att: a estória do sms foi contada pelo próprio José Sócrates no programa "5 para a Meia-Noite".
quinta-feira, 5 de maio de 2011
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Fontes e fontanários
As medidas que, afinal, não fazem parte do pacote de ajustamento negociado entre Portugal e a troika, correspondem mais ou menos às notícias, muitas vezes em manchete, que vários jornais, televisões e rádios foram anunciando ao longo das últimas semanas sobre os planos da troika para Portugal.
Toda a gente teve acesso a informação privilegiada de “fontes” ligadas às negociações ou, muitas vezes, rematada com o ainda mais tranquilizador, “o XXX sabe”, ou “o XXX apurou”, ou muitas outras vezes, sem qualquer referência ou mera alusão acerca da respectiva origem. O XXX sabe e publica, logo, o leitor pode acreditar à vontade.
Pena que a esmagadora maioria dessas informações se tenha revelado falsa. Como a que ainda ontem, dia em que se dava como certo o fim das negociações, antecipava cortes nas pensões a partir de 600 euros, ou a que garantia que o valor da ajuda seria de 105 mil milhões de euros, muito longe dos 75-80 mil milhões avançados por diferentes responsáveis europeus. Isto no mesmo dia em que outro jornal atirou para o ar o número de 60 mil milhões de euros. Tudo em televisões e jornais de referência, claro.
E sobra sempre a explicação de que, apesar de muitas dessas informações não terem batido certo com a realidade, na altura em que o XXX as publicou, elas estavam mesmo em cima da mesa das negociações, mas as coisas entretanto evoluíram… Sobretudo é preciso evitar que a realidade possa estragar uma boa estória.
Não se percebe se é a necessidade de mostrar serviço às chefias e administrações, vender papel e insuflar audiências, ou a vontade de agradar às ditas fontes, que se sobrepuseram à necessidade de rigor, de cruzar informações ou de simples bom senso. Ainda por cima tendo em conta o clima eleitoral em que tudo isto acontece(u) e o interesse redobrado dos vários protagonistas/fontes veicularem as suas teses ou difundirem os seus boatos (basta ver como PS e PSD tentam capitalizar com a dramatização anterior). É duvidoso que os jornalistas que escreveram essas informações e os jornais que as publicaram as tenham inventado (todas). Mas não é justificável que muitas vezes as tenham reproduzido de forma acrítica.
Certo é que o que foi feito não foi bom nem para o jornalismo, nem para o país. E, infelizmente, praticamente ninguém sai bem desta história.
Toda a gente teve acesso a informação privilegiada de “fontes” ligadas às negociações ou, muitas vezes, rematada com o ainda mais tranquilizador, “o XXX sabe”, ou “o XXX apurou”, ou muitas outras vezes, sem qualquer referência ou mera alusão acerca da respectiva origem. O XXX sabe e publica, logo, o leitor pode acreditar à vontade.
Pena que a esmagadora maioria dessas informações se tenha revelado falsa. Como a que ainda ontem, dia em que se dava como certo o fim das negociações, antecipava cortes nas pensões a partir de 600 euros, ou a que garantia que o valor da ajuda seria de 105 mil milhões de euros, muito longe dos 75-80 mil milhões avançados por diferentes responsáveis europeus. Isto no mesmo dia em que outro jornal atirou para o ar o número de 60 mil milhões de euros. Tudo em televisões e jornais de referência, claro.
E sobra sempre a explicação de que, apesar de muitas dessas informações não terem batido certo com a realidade, na altura em que o XXX as publicou, elas estavam mesmo em cima da mesa das negociações, mas as coisas entretanto evoluíram… Sobretudo é preciso evitar que a realidade possa estragar uma boa estória.
Não se percebe se é a necessidade de mostrar serviço às chefias e administrações, vender papel e insuflar audiências, ou a vontade de agradar às ditas fontes, que se sobrepuseram à necessidade de rigor, de cruzar informações ou de simples bom senso. Ainda por cima tendo em conta o clima eleitoral em que tudo isto acontece(u) e o interesse redobrado dos vários protagonistas/fontes veicularem as suas teses ou difundirem os seus boatos (basta ver como PS e PSD tentam capitalizar com a dramatização anterior). É duvidoso que os jornalistas que escreveram essas informações e os jornais que as publicaram as tenham inventado (todas). Mas não é justificável que muitas vezes as tenham reproduzido de forma acrítica.
Certo é que o que foi feito não foi bom nem para o jornalismo, nem para o país. E, infelizmente, praticamente ninguém sai bem desta história.
Os habilidosos
O não-anúncio das medidas de austeridade associadas ao pedido de ajuda financeira, tal como feito na terça-feira à noite por José Sócrates, é como ir ao médico sabendo de antemão que se sofre de uma doença muito grave e ouvir o clínico desfiar todos os outros males, ainda mais graves, que não fazem parte da ficha clínica do paciente. É como explicar a um tuberculoso que tem todos os motivos para estar satisfeito, uma vez que não sofre da doença de Creutzfeldt-Jakob.
Mas cuidado com as segundas opiniões. Eduardo Catroga, que se fartou de escrever nas últimas semanas para se queixar do governo, que andava a omitir informação e a deixar o PSD de fora das negociações, vem agora reivindicar a paternidade do que há de “bom” no acordo. Neste mundo da medicina, o negociador do PSD é o clínico que tem a parede forrada de diplomas reluzentes, mas falsos e de universidades obscuras.
Deve ser a primeira vez que um governo anuncia um pacote de austeridade sem o anunciar, com a cumplicidade do partido da oposição que garante a implementação desse mesmo acordo. Mas tendo em conta que as eleições são daqui a um mês, afinal, quem os pode censurar… Espera-se que a conferência de imprensa da troika seja mais esclarecedora.
Mas cuidado com as segundas opiniões. Eduardo Catroga, que se fartou de escrever nas últimas semanas para se queixar do governo, que andava a omitir informação e a deixar o PSD de fora das negociações, vem agora reivindicar a paternidade do que há de “bom” no acordo. Neste mundo da medicina, o negociador do PSD é o clínico que tem a parede forrada de diplomas reluzentes, mas falsos e de universidades obscuras.
Deve ser a primeira vez que um governo anuncia um pacote de austeridade sem o anunciar, com a cumplicidade do partido da oposição que garante a implementação desse mesmo acordo. Mas tendo em conta que as eleições são daqui a um mês, afinal, quem os pode censurar… Espera-se que a conferência de imprensa da troika seja mais esclarecedora.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Antes vivo do que morto
O mais difícil com a morte de Osama bin Laden é não conseguir perceber a euforia que vai pelo mundo ocidental. E não conseguir encontrar razões por que gente avisada como funciona a Al-Qaida aplauda com entusiasmo o seu desaparecimento.
Vivo, bin Laden, há muito, que não tinha qualquer papel relevante na estrutura e na ação da organização que ele ajudou a criar. Era apenas um homem acossado, a fintar alguns agentes dos Serviços Secretos paquistaneses que não simpatizam com a Al-Qaida, a refugiar-se em casas no único país que, de facto, o poderia acolher, a viver com medo da própria sombra e sem sequer poder usar comunicações. A Al-Qaida, mesmo em menor escala, continou a funcionar da forma como foi idealizada pelo seu "pai", o egípcio Sayyid Qutb, e colocada em prática por bin Laden: a exportar a "revolução", apoiando, com gente e com dinheiro, organizações terroristas islâmicas pelo mundo.
Morto, bin Laden transformou-se num herói, num mártir e, acima de tudo, numa razão acrescida para mais atentados. A vingança será um prato poderá ser servido banhado de sangue. Bin Laden, morto, vai conseguir acender mais a fé radical islâmica do que fez nestes últimos anos. A semente do radicalismo continua inamovível e até, nalguns casos, sempre a dar frutos: nas escolas e faculdadades islâmicas do Egito, nas 'madrassas' do Paquistão, nalgumas escolas e rádios da Tunísia, em muitas mesquistas da Bósnia, da Síria, do Iraque, da Nigéria, do Iémen...
Morto, bin Laden serve apenas para o mundo ocidental como um troféu, uma bandeira, um símbolo. E nada mais do que isso. O terrorismo islâmico não foi decapitado. Retiraram-lhe apenas o alfinete da lapela. E nem sequer conseguiram sugar-lhe o espírito.
Vivo, bin Laden, há muito, que não tinha qualquer papel relevante na estrutura e na ação da organização que ele ajudou a criar. Era apenas um homem acossado, a fintar alguns agentes dos Serviços Secretos paquistaneses que não simpatizam com a Al-Qaida, a refugiar-se em casas no único país que, de facto, o poderia acolher, a viver com medo da própria sombra e sem sequer poder usar comunicações. A Al-Qaida, mesmo em menor escala, continou a funcionar da forma como foi idealizada pelo seu "pai", o egípcio Sayyid Qutb, e colocada em prática por bin Laden: a exportar a "revolução", apoiando, com gente e com dinheiro, organizações terroristas islâmicas pelo mundo.
Morto, bin Laden transformou-se num herói, num mártir e, acima de tudo, numa razão acrescida para mais atentados. A vingança será um prato poderá ser servido banhado de sangue. Bin Laden, morto, vai conseguir acender mais a fé radical islâmica do que fez nestes últimos anos. A semente do radicalismo continua inamovível e até, nalguns casos, sempre a dar frutos: nas escolas e faculdadades islâmicas do Egito, nas 'madrassas' do Paquistão, nalgumas escolas e rádios da Tunísia, em muitas mesquistas da Bósnia, da Síria, do Iraque, da Nigéria, do Iémen...
Morto, bin Laden serve apenas para o mundo ocidental como um troféu, uma bandeira, um símbolo. E nada mais do que isso. O terrorismo islâmico não foi decapitado. Retiraram-lhe apenas o alfinete da lapela. E nem sequer conseguiram sugar-lhe o espírito.
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