Depois de, à semelhança do PCP, ter recusado reunir com a troika, o Bloco de Esquerda solicitou uma reunião com o governo para expor as suas posições antes de Portugal assumir qualquer compromisso com as instituições internacionais com que está a negociar o pacote de ajustamento que terá que implementar, em troca do financiamento para os próximos anos.
Dias antes o negociador do PSD escreveu ao governo a manifestar a disponibilidade do seu partido para encontrar um entendimento com o executivo nas negociações.
Pouco antes José Sócrates apresentou o programa eleitoral do PS até 2015.
Todos estes actos parecem ignorar o simples facto de as ditas negociações estarem a decorrer há várias semanas, de estarem prestes a ser concluídas e de o anúncio do seu resultado ser esperado o mais tardar até à próxima quarta-feira.
E o que vai ser anunciado não será um conjunto de ideias para reflexão dos partidos portugueses. Mas sim um pacote definitivo com medidas concretas e metas temporais específicas para as alcançar e que, quando vir a luz do dia, já terá o acordo do governo e o apoio do PSD e do CDS. E não um acordo do género, ‘ok, depois logo vemos o que fazemos com isso’, mas um acordo escrito na pedra (com cartas de conforto, declarações unilaterais, sem fotos de grupo ou o que quer que seja) que o próximo governo terá que implementar, seja qual for a sua composição. Pois essa implementação será monitorizada periodicamente e qualquer desvio levará ao fecho imediato da torneira dos milhões da União Europeia e do FMI de que Portugal precisa.
Os traços gerais do que aí vem estão na edição de hoje do Expresso e vão desde a reestruturação da administração pública e a reforma da justiça, a um vasto programa de privatizações, passando pela flexibilização do mercado laboral e mexidas nos impostos. Entre outras coisas. Austeridade e reformas a sério. Em alguns casos será mais do mesmo que sucessivos governos têm vindo a fazer ao longo dos últimos 10 anos, mas com a ênfase no ‘mais’.
E é isto que vai ser anunciado brevemente e que não foi minimamente discutido pelos partidos portugueses nas últimas semanas. Nem isso, nem outras coisas, como por exemplo, que taxa de juro vai a Europa exigir a Portugal pelo dinheiro que emprestará, e que se sabe à partida que não será nenhuma prenda, e que estratégia negocial poderia seguir o país para obter um resultado menos penalizador.
Mas não. As energias e atenções foram gastas em trocas de acusações, insultos, birras e tretas, com a preciosa ajuda da generalidade da comunicação social, mais interessada nestes epifenómenos, nas partidas e chegadas vazias de conteúdo dos ‘homens do FMI’ ao ministério das finanças e do respectivo pequeno-almoço do que na necessidade de tentar levar o debate para as questões de fundo. Tudo a culminar na apresentação de um surreal programa de governo que pretende ignorar que o verdadeiro programa do próximo governo será o anunciado não por nenhum dos partidos portugueses, mas pelos representantes da Comissão Europeia, do FMI e do Banco Central Europeu. A bem da democracia, claro.
Algo que é óbvio e que tanto Sócrates, como Passos Coelho sabem e que o próprio Francisco Louçã não ignora, o que faz com que, conduzido desta forma, o debate político nacional se assemelhe a uma enorme farsa, com uma classe política mais preocupada com os seus interesses de curto prazo do que com um qualquer interesse nacional. Seja lá isso o que for.
Dias antes o negociador do PSD escreveu ao governo a manifestar a disponibilidade do seu partido para encontrar um entendimento com o executivo nas negociações.
Pouco antes José Sócrates apresentou o programa eleitoral do PS até 2015.
Todos estes actos parecem ignorar o simples facto de as ditas negociações estarem a decorrer há várias semanas, de estarem prestes a ser concluídas e de o anúncio do seu resultado ser esperado o mais tardar até à próxima quarta-feira.
E o que vai ser anunciado não será um conjunto de ideias para reflexão dos partidos portugueses. Mas sim um pacote definitivo com medidas concretas e metas temporais específicas para as alcançar e que, quando vir a luz do dia, já terá o acordo do governo e o apoio do PSD e do CDS. E não um acordo do género, ‘ok, depois logo vemos o que fazemos com isso’, mas um acordo escrito na pedra (com cartas de conforto, declarações unilaterais, sem fotos de grupo ou o que quer que seja) que o próximo governo terá que implementar, seja qual for a sua composição. Pois essa implementação será monitorizada periodicamente e qualquer desvio levará ao fecho imediato da torneira dos milhões da União Europeia e do FMI de que Portugal precisa.
Os traços gerais do que aí vem estão na edição de hoje do Expresso e vão desde a reestruturação da administração pública e a reforma da justiça, a um vasto programa de privatizações, passando pela flexibilização do mercado laboral e mexidas nos impostos. Entre outras coisas. Austeridade e reformas a sério. Em alguns casos será mais do mesmo que sucessivos governos têm vindo a fazer ao longo dos últimos 10 anos, mas com a ênfase no ‘mais’.
E é isto que vai ser anunciado brevemente e que não foi minimamente discutido pelos partidos portugueses nas últimas semanas. Nem isso, nem outras coisas, como por exemplo, que taxa de juro vai a Europa exigir a Portugal pelo dinheiro que emprestará, e que se sabe à partida que não será nenhuma prenda, e que estratégia negocial poderia seguir o país para obter um resultado menos penalizador.
Mas não. As energias e atenções foram gastas em trocas de acusações, insultos, birras e tretas, com a preciosa ajuda da generalidade da comunicação social, mais interessada nestes epifenómenos, nas partidas e chegadas vazias de conteúdo dos ‘homens do FMI’ ao ministério das finanças e do respectivo pequeno-almoço do que na necessidade de tentar levar o debate para as questões de fundo. Tudo a culminar na apresentação de um surreal programa de governo que pretende ignorar que o verdadeiro programa do próximo governo será o anunciado não por nenhum dos partidos portugueses, mas pelos representantes da Comissão Europeia, do FMI e do Banco Central Europeu. A bem da democracia, claro.
Algo que é óbvio e que tanto Sócrates, como Passos Coelho sabem e que o próprio Francisco Louçã não ignora, o que faz com que, conduzido desta forma, o debate político nacional se assemelhe a uma enorme farsa, com uma classe política mais preocupada com os seus interesses de curto prazo do que com um qualquer interesse nacional. Seja lá isso o que for.