quarta-feira, 6 de maio de 2009

A sorte de Soares


Quando se candidatou ao Parlamento Europeu, em 1999, Mário Soares não fez a coisa por menos: mais do que candidato a um mero lugar entre 600 e tal deputados, arvorou-se em candidato à presidência do PE.

O desenlace é conhecido: não só foi derrotado, como privou os socialistas europeus da presidência da instituição durante toda a legislatura e ainda teve tempo para chamar “dona de casa” a Nicole Fontaine, a francesa que lhe ficou com o lugar.

Na altura, Soares teve um consolo tão amargo quanto irónico: na qualidade de decano dos deputados eleitos, caber-lhe-ia a honra de efectuar a locução de abertura da sessão legislativa. Papel de que, no entanto, abdicou por também ser candidato à presidência do PE, mas o facto ficou devidamente perpetuado numa edição especial de filatelia da já longa colecção de selos e envelopes editada pelo PE para assinalar algumas ocasiões.

Acontece que, se fosse hoje, nem esse magro consolo Soares teria, pois o PE acaba de alterar esta regra. Perante a perspectiva de o líder da extrema-direita francesa, Jean-Marie Le Pen, voltar a ser eleito nas próximas eleições e, do alto dos seus quase 81 anos, ser muito provavelmente o decano da nova legislatura, o PE acaba de modificar o seu regulamento, para impedir que a abertura da legislatura 2009-2014 coubesse a Le Pen.

Agora, a dita honra caberá não ao decano, mas ao ex-presidente do PE, caso seja reeleito. Caso não seja reeleito, a palavra será dada a um dos anteriores 14 vice-presidentes. Caso sejam reeleitos. Caso contrário… altera-se novamente o regulamento, que é para isso que parece que ele serve.

1 comentário:

o soba sabe quem eu sou disse...

É isso a democracia na Europa? Alterar as leis em função das pessoas? As leis e regulamentos devem servir o interesse geral e nunca limitar direitos de cidadãos ainda mais eleitos. Já imagino Le Pen, que além do mais, é francês e portanto chauvinista a capitalizar essa objectiva censura anti-democrática