Considerado vilão e herói, Rosa Coutinho entra para a História por ter sido um homem que, em seis meses, mudou o rumo de um país: Angola. Sem o almirante a presidir à então Junta Governativa, Angola não seria hoje o que é. Os angolanos - e muitos portugueses que dependem de Angola para viver - bem podem agradecer os seis meses que Rosa Coutinho dirigiu os destinos da província que caminhava para a Independênmcia. Logo que aterrou em Luanda, Rosa Coutinho apercebeu-se que só poderia apoiar o MPLA, evitando que o país fosse dividido em dois, com traços bem definidos: a Sul, governado pela UNITA e pelo regime racista da África do Sul; a Norte, governado por Holden Roberto que não era mais do que um fantoche do louco presidente zairense Mobutu Sese Seko. No meio disto, encontrava-se um MPLA desfeito militarmente, quase derrotado na mata, mas com influência nalgumas cidades, sobretudo junto de intelectuais.
Na altura, o MPLA era o único movimento com quadros formados, muitos na antiga União Soviética e países do Leste europeu e outros, também bastantes, nas faculdades portuguesas. E Rosa Coutinho fez uma opção clara que ele próprio não teve dúvidas em reconhecer. Em seis meses mudou Angola: entregou 10 mil contos ao MPLA, enquanto fez os outros movimentos esperar; atraiu mais de dois mil catangueses para, mais a norte de Luanda, ajudarem o movimento de Agostinho Neto a enfrentar a ofensiva do Zaire, oferecendo até o mercedes do governo-geral ao general M'Bumba; travou, várias vezes e várias frentes, as intenções de muitos colonos que queriam formar governo, conseguindo a independência "branca"; afastou antigos membros da PIDE, que ainda restavam em Luanda, de cargos dirigentes; manobrou, como põde, Mobutu e as suas intenções, promovendo conversações apenas para dar tempo ao MPLA de se reorganizar; manteve frequentes contactos com dirigentes do MPLA dando até conselhos. E ele nunca se furtou em ajudar, como reconheceu nesta entrevista:
"O MPLA não tinha forças militares e passou a ter a melhor infantaria que estava em Angola. Na altura, o MPLA tinha apoios duvidosos da URSS. Os soviéticos não sabiam se haviam de apoiar o MPLA, porque aquilo tudo era um saco de gatos. Só Cuba dava um apoio sólido"*
Por tudo isso, Angola deve-lhe muito. É evidente que nunca se pode imaginar o que seria o destino de Angola, caso Rosa Coutinho não tivesse tomado as posições que tomou. Mas facilmente se conclui que o país teria vivido, pelo menos durante longos anos, completamente dividido, além, claro,da inevtitável guerra civil.
Rosa Coutinho foi voluntarioso, polémico, abnegado, persistente, impetuoso e corajoso. Não hesitava em subir a mesas para enfrentar manifestantes furiosos. No primeiro dia de trabalho, na Junta Governativa, o jornal "Província de Angola" intitulava: "Chegou o Almirante Vermelho". A partir daí, Rosa Coutinho passou a assinar todos os despachos a tinta... vermelha. Morreu hoje uma figura ímpar na História de Portugal e de Angola. E entrou para essa história graças a seis meses verdadeiramente alucinantes, dignos de serem transpostos em filme.
*"O último adeus português", Fernando, Emídio, Oficina do Livro
18 comentários:
Rosa Coutinho: Um Homem, Um Patriota, Um Revolucionário!
MG
"e muitos portugueses que dependem de Angola para viver"
Na altura eram muitos mais, meu caro...
Ao anónimo: eram sim muito mais, mas pensavam que estavam na terra (coutada) deles. Agora sabem que são apenas estrangeiros e que Angola pertence aos angolanos.
Depende ao que chama Angolanos. É o fato de serem negros ? Há muitos que vivem de um lado ao outro da fronteira e querem lá saber da nacionalidade mas do grupo étnico que pertence...
E para mais, acha que o fato de serem estrangeiros justifica a violência da expulsão por que passaram?
Conheci brancos de 3ª e 4ª geração, conheci portugueses que venderam seus bens de família em Portugal para aplicar em Angola porque aí sentiam-se enraízados.
O administrador português tinha a obrigação de integrar todos os residentes e fazer com que todas as partes costurassem um acordo visando uma transição pacífica.
Se ia ou não dar certo, ao menos que tentasse.
Havia que tomar partido de alguém naquela época, porque era evidente a impossibilidade de haver uma transição pacífica entre os movimentos angolanos, resultado das pressões externas. Perante isto, Rosa Coutinho fez a melhor opção, como a história se encarregou de demosntrar. As restantes discussões sobre este momento histórico não passam de especulações puramente acadámicas.
Caro anónimo: angolanos são todos aqueles que, de uma forma ou de outra, amam e defendem Angola, mas como uma Nação independente, sem explorados, sem escravos, sem raças, e sobretudo sem colonialismos e onde todos tenham a igualdade de oportunidades. Só isso separa os “angolanos” que fugiram em 1975 e todos os outros. Ao contrário do que quer fazer a historiografia portuguesa, a guerra em Angola não começou apenas em 1961 e muito menos em 1974. Já vem ao longo dos tempos a resistência aos portugueses, holandeses, belgas e boers. E os filhos desses que resistiram e lutaram por uma Angola independente são os verdadeiros angolanos. Não é uma questão de cor. Muitos brancos ficaram em Angola e ninguém os expulsou: lutaram pela terra que os viu nascer ou simplesmente que os viu crescer. A esta distância, é fácil dizer que muitos brancos – como se refere - não mereceram a violência. Mas acredite que a maioria mereceu e muitos até mereciam mais: que não explorassem, não roubassem, não escravizassem, não fizessem separações violentas numa terra que não era a deles. E se tivessem aberto os olhos, se não vivessem na tremenda ilusão dos “brandos costumes” teriam percebido o que iria acontecer. Tal como ainda acontece agora, faltou aos portugueses receber formação profissional dos franceses.
A resposta podia ser: olha lá, porque é que não vais para Angola? Patriotismo nalguns países desse continente significa apenas racismo contra branco, em nome de meia dúzia de oligarcas. Agora citares esse bandido, responsável não apenas pela divisão entre angolanos e por uma guerra civil que matou milhões e que expulsou os seus compatriotas - os brancos, para sermos claros - isso é de facto a sobranceria da superioridade moral.
Esse Rosa Coutinho era um traidor, e o sangue e tristeza que em nome do PCUS fez derramar não estão esquecidos.
Mas fica claro, que em alguns países do mundo, ser patriota é ser racista, é ser contra os brancos!
Os "ocidentais" e "europeus" é que têm como habitualmente, a responsabilidade por tudo, e de aturar a treta da integração, da xenofobia, da igualdade de direitos...
"Mas acredite que a maioria mereceu e muitos até mereciam mais"
Já percebi seu ponto de vista.
Espero que algum dia não sofra um qualquer julgamento de alguem que supondo-se humano não o é. E que se acontecer que ele seja brando consigo.
Ao anónimo e ao JCunha, poderia explicar aqui muita coisa, mas seria fastidioso. Mas posso recomendar alguns livros que conseguem explicar muito o que se passou em Angola. Por favor, leiam o que puderem de René Pélissier, Douglas Wheeler e David Birmigham (não é em vão que não são historiadores portugueses) e, já agora, as portuguesas Ana Barradas e Dalila Cabrita Mateus e talvez consigam ter uma outra visão, sem ser aquela que vos é dada pelos jornais “o Dia” e o Diabo”. JCunha, a divisão dos angolanos começou a ser feita com o colonialismo: a violenta separação de famílias e a escravidão são o melhor exemplo. E sim, foram os “ocidentais” e “europeus” que mataram, chacinaram, escravizaram e roubaram. Se tivessem ficado na terra deles, não seriam expulsos certamente. Passariam fome, é certo, mas evitavam anos depois falar em divisões. E, na altura de R. Coutinho, houve um facínora assassino a ser fantoche dos sul-africanos. Está tudo documentado.
Ao anónimo: caso tivesse passado o que muitos angolanos passaram também seria capaz de compreender. Faça lá um exercício e imagine o seu país a ser invadido por estrangeiros. E imagine o seu povo a ser escravizado, a não ter qualquer direito na sua própria terra, a não ser o de trabalhar sem receber. E os seus familiares a serem vendidos como gado. Faça lá um esforço. Eu, por mais que me esforce, nunca vou entender como se pode perdoar o colonialismo ou nem sequer reconhecer que foi aí que residiu todo o mal.
Ah e ainda ao JCunha: a pergunta "olha lá, porque é que não vais para Angola?" encerra nela toda a intolerância que explica também o que se passou em Angola. Antes de 1974, a pergunta seria substituída por uma entrada grátis nos campos de concentração do Tarrafal ou do Namibe.
"Faça lá um exercício e imagine o seu país a ser invadido por estrangeiros."
Tenha em atenção o básico: se até hoje a referência de parte significativa de africanos é a tribo e não o país, o que dirá décadas atrás. Os brancos eram mais um povo aí presente, naturalmente o mais forte e poderoso. Sua idéia de "invasão" é muito simplista como se tratasse dum qualquer país europeu ou até asiático.
"E imagine o seu povo a ser escravizado, a não ter qualquer direito na sua própria terra, a não ser o de trabalhar sem receber."
Sim é certo, mas só em parte pois essas situações vinham diminuindo. Alem disso só piorou com a transferência do poder dos brancos para os caciques locais.
"Eu, por mais que me esforce, nunca vou entender como se pode perdoar o colonialismo ou nem sequer reconhecer que foi aí que residiu todo o mal."
Por favor não queria colar o título de colonialista: o fato de se condenar o regime em si não significa que se deva defender uma retirada atabalhoada como a que foi feita. Para o bem e para o mal havia muitas famílias estabelecidas, tanto negras, quanto brancas ou mestiças que forma obrigadas a sair para fora do país para não viver sob um regime comunista.
Então e hoje os chamados "ocidentais" também não foram explorados, saqueados e invadidos por outros povos?
Se vamos continuar com a culpa é deles, temos muito, mas mesmo muito caminho que percorrer.
Ao anónimo anterior: sim, era uma invasão estrangeira. Imagine a meio do Séc. XIX, o que sentia os povos muilas, ambundos, ganguelas, bankongos e por aí fora a verem, de repente, gente branca, com vestimentas estranhas? Caso semelhante hoje seria quase uma invasão extra-terrestre! Em 1870, Portugal já tinha colocado, em Angola, quase 200 mil brancos. Sim, foi uma invasão.
Seria muito interessante se esta discussão conseguisse ultrapassar a fronteira deste blogue. E aí reside um grande mal português: dá-se mal com a história e não a quer discutir. Portugal ainda convive co fantasmas e ilusões e, por isso, a sua História recente não é analisada e discutida. Talvez se ultrapasse uma série de ideias feitas.
É evidente que não se pode carimbar toda a gente de colonialista. Houve um contexto histórico. Muita gente decente, intelectualmente bem formada, outra gente com necessidade de partir, que resolveu rumar para Angola. Afinal era a terra prometida. E foram, caindo na ilusão que foi criada, nas campanhas e no tal contexto muito próprio. Mas, os portugueses, em 1974, poderiam adivinhar a tempestade. Afinal, as indepedências africanas já contavam com 14 anos. Por que diabo seria Angola diferente? Nem mesmo a ilusão dada por uma propaganda justifica essa ingenuidade.
E depois, em 1974, logo a seguir ao 25 de Abril a situação passou a ser incontrolável: soldados fartos de uma guerra num terra que não era deles; gente com armas que começa a aparecer nas cidades; caos organizativo em Portugal com reflexos nas colónias; gente a fugir com capitais; um sentimento de liberdade que passou por milhares de pessoas. Houve de tudo. E obviamente, era tudo incontrolável.
E tudo isso ainda falta ser analisado. Mas háu uma certeza: Angola esteve muito perto de cair nas mãos do Mobutu. E seria o que é hoje a República do Congo (ex-Zaire). Para mal dos angolanos e de milhares de portugueses que hoje não tinham terra para se socorrerem.
Quem definiu as fronteiras africanas?
Basta responder a isto que qualquer pessoa verá que não se pode sustentar a idéia de invasão de um país por outro.
Porque Angola seria diferente?
Simples: porque o Brasil o foi. Porque as colonizações feitas por portugueses foram as mais inclusivas em todo o mundo. E porque a África do Sul existia e ainda existe...
200 mil em 1870?
Estou é impressionado por não terem feito uma indepedência antes.
Ao último anónimo: perdão pela minha falta de revisão. Quis dizer 20 mil, entre oficiais militares, soldados, vendedores e condenados. Na altura, a população de Angola estava calculada em pouco mais de um milhão de habitantes, como é óbvio, não haveria os tais 200 mil portugueses.
Isto "ao JCunha, poderia explicar aqui muita coisa, mas seria fastidioso" só se pode dar uma classificação: a soberba da superioridade moral da esquerda portuguesa.
Quanto ao ir para Angola, era uma provocação, uma brincadeira. Cá com todos os males e contratempos, qualquer angolano obtém nacionalidade, saúde, educação.
Em suma, não conheço deportações.
Agora, experimente um português ficar sem visto em Angola? Tente pedir nacionalidade? Saúde, educação, enfim!
Quem com todos os defeitos, não acolheu apenas os brancos expulsos, mas também os africanos, que fugiram das guerras civis que lhes "deram" a exemplar descolonização
Enfim, eu sou um defensor da lusofonia com reciprocidade, sem complexos, e portanto sem hipocrisias, como as que são geralmente expostas a este propósito!
O autor do post não desconhece pessoalmente a generosidade com que tratei os temas D'África.
Rosa Coutinho:Um crápula,um oportunista,um cobarde vermelho!
Porque tinha de se entregar Angola aos vermelhos?
Ajudava-se da mesma forma depudorada a Unita,e estes rebentavam com os outros!Não era a mesma coisa?
Só que o vermelho estava na moda,como ainda está!
Não venham para cá falar de exploração e de roubos!Quem encheu a blusa foram os militares,que depois regressaram ao puto e fizeram a revolução dos cravos!Ou devo dizer dos crápulas?
Portugas de merda!
Morreu o Coutinho?Ah!Olha que pena coitado!Nunca havia de ter nascido!
Ass:Espoliado!
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