quarta-feira, 4 de maio de 2011

Fontes e fontanários

As medidas que, afinal, não fazem parte do pacote de ajustamento negociado entre Portugal e a troika, correspondem mais ou menos às notícias, muitas vezes em manchete, que vários jornais, televisões e rádios foram anunciando ao longo das últimas semanas sobre os planos da troika para Portugal.

Toda a gente teve acesso a informação privilegiada de “fontes” ligadas às negociações ou, muitas vezes, rematada com o ainda mais tranquilizador, “o XXX sabe”, ou “o XXX apurou”, ou muitas outras vezes, sem qualquer referência ou mera alusão acerca da respectiva origem. O XXX sabe e publica, logo, o leitor pode acreditar à vontade.

Pena que a esmagadora maioria dessas informações se tenha revelado falsa. Como a que ainda ontem, dia em que se dava como certo o fim das negociações, antecipava cortes nas pensões a partir de 600 euros, ou a que garantia que o valor da ajuda seria de 105 mil milhões de euros, muito longe dos 75-80 mil milhões avançados por diferentes responsáveis europeus. Isto no mesmo dia em que outro jornal atirou para o ar o número de 60 mil milhões de euros. Tudo em televisões e jornais de referência, claro.

E sobra sempre a explicação de que, apesar de muitas dessas informações não terem batido certo com a realidade, na altura em que o XXX as publicou, elas estavam mesmo em cima da mesa das negociações, mas as coisas entretanto evoluíram… Sobretudo é preciso evitar que a realidade possa estragar uma boa estória.

Não se percebe se é a necessidade de mostrar serviço às chefias e administrações, vender papel e insuflar audiências, ou a vontade de agradar às ditas fontes, que se sobrepuseram à necessidade de rigor, de cruzar informações ou de simples bom senso. Ainda por cima tendo em conta o clima eleitoral em que tudo isto acontece(u) e o interesse redobrado dos vários protagonistas/fontes veicularem as suas teses ou difundirem os seus boatos (basta ver como PS e PSD tentam capitalizar com a dramatização anterior). É duvidoso que os jornalistas que escreveram essas informações e os jornais que as publicaram as tenham inventado (todas). Mas não é justificável que muitas vezes as tenham reproduzido de forma acrítica.

Certo é que o que foi feito não foi bom nem para o jornalismo, nem para o país. E, infelizmente, praticamente ninguém sai bem desta história.

5 comentários:

Anónimo disse...

Que se voltará a repetir outra vez o que o "obrigará" a escrever outra vez um post como este, certo?

Anónimo disse...

Chama-se manipulação. E continua.

E os jornalistas prestam-se a essa manipulação, por identificação ideológica ou por interesse material (os que são pagos, para continuar a receber, os que trabalham de borla para alimentarem a ilusão de ascender ao lote dos bem pagos).

Chama-se capitalismo e é uma coisa porca e onde as virgens são poucas, e estão todas na resistência.

Um Abraço,

MG

alentejano disse...

o forróbódó, tambem passa ppela comunicação social, creio que não são só os patrões (dessa C.Social) a fazer coisas, também, como em tudo na vida há jornalistas e "ha jornalistas".
Com tudo isto como não havemos de ter entre a população quem vá votar no mesmo para que tudo fique na mesma.Ser integro tem preço elevado!

Daniel Rosário disse...

MG,

pode ser isso ou até algo ainda mais elaborado.

ou apenas algo ainda mais simples, como incompetência ou preguiça, características que estão longe de ser um exclusivo dos jornalistas.

Anónimo disse...

UF!! É preciso vir a um blog para ler evidências. Até quando?