Sete anos depois de ter trocado Lisboa por Bruxelas, Durão Barroso admitiu hoje que a culpa do estado a que chegou o país é sua. Claro que não o fez de uma forma tão directa e até foi obrigado a “amassar” alguns números para sustentar a sua tese.
Um jornalista italiano perguntou a Barroso se as receitas da Comissão Europeia, do BCE e do FMI para a Grécia seriam a solução certa. E recordou que, enquanto primeiro-ministro (entre 2002 e 2004), o próprio Durão implementou em Portugal medidas da mesma natureza e, quase 10 anos depois, o país “não está em grande forma”.
E Durão explicou pacientemente que, quando se foi embora, deixou a casa toda arrumadinha: “Quando era primeiro-ministro, no dia em que terminei o meu mandato, o défice estava, de facto, abaixo dos 3,0 por cento e a dívida, se me recordo bem, estava nos 57 ou 58 por cento, portanto abaixo do limite” de 60 por cento do PIB, referindo-se aos limites impostos pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento.
E acrescentou que “Nessa altura (2004) eu estava a tentar que o meu país fizesse esforços e algumas pessoas não concordavam com esses esforços”, para concluir que “o problema aparece quando esse caminho não tem continuação”. Ou seja, se a Europa não tivesse chamado por ele, nada disto tinha acontecido.
A verdade é que se em relação aos números da dívida Durão até tem razão, a parte sobre o défice é bem mais discutível. Começou por rever em alta o défice de 2001 (um truque muito em voga durante algum tempo em vários países europeus, como Portugal e a Grécia, que permite aos governos recém-empossados dramatizar a situação, acusar o antecessor e mostrar serviço mais depressa) para 4,3%. Fechou 2002 com 2,9%, mas em 2003 o valor final já foi de 3% e o ano de 2004 acabou nos 3,4%.
Quando Sócrates chegou ao governo, em 2005, a primeira coisa que este fez foi… rever em alta os valores do défice (atirando as culpas para Durão e Santana), que nesse ano acabaria por atingir os 5,9%.
Como diria o outro, é só fazer as contas. Ou talvez não.
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