quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Josefa, o Bebé e o jornalismo que engana a todos

Um jogador português salta para do Vitória de Guimarães para o Manchester United. A viagem de sonho custa aos ingleses quase 10 milhões de euros e foi o maior negócio de sempre dos vimaranense. Mas o jogador, Bebé de seu nome, foi um sem-abrigo. Por cá, os jornais portugueses destacam o negócio. Pelo Brasil, os jornais contam que o rapaz era, até há pouco tempo, um "sem teto". É pena que ninguém, nestas redacções, se preocupe a contar a história humana do Bebé.
Tal como nunca ninguém contou da Josefa - de tantas outras e outros como a Josefa - que foi bombeira, estudante e trabalhadora. Tudo ao mesmo tempo. Só entrou para as páginas dos jornais porque morreu. Ferreira Fernandes (FF) tenta fazer-lhe uma homenagem, que bem poderia ser um acto de contrição.
A propósito deste artigo de FF um grande jornalista (infelzmente retirado das lides, mas não da atenção e da memória) Paulo Caetano escreveu isto:

"O Ferreira Fernandes, como bem sabemos, é um mestre a jogar com as palavras. Por isso, presta uma tão bonita homenagem a uma miúda que morreu por que estava onde não devia: a combater um fogo que devia ser combatido por sapadores profissionais e com formação em vez de miudos que se dão como voluntários enquanto os comandantes dos seus quartéis "voluntários" cobram ao Estado cada saída que fazem. Daí, se pensarmos um pouco, pode estar uma das explicações possíveis para tantos misteriosos reacendimentos de fogos dados como extintos. Mas, o mais importante desta crónica, era responder à questão que o FF coloca no fim do texto: 'porque não conhecíamos nós a Josefa?' Pensava que, com a experiência de tantos anos a fazer jornais e a dirigi-los, o FF saberia responder a isso. É simples: porque os donos dos jornais - e as direcções que eles contratam - só falariam da Josefa se ela fosse "famosa", se aparecesse em programas televisivos ou frequentasse festas 'in'. E, se numa qualquer redacção por onde o FF passou nos últimos anos, um simples jornalista desse a ideia de escrever uma história com a Josefa que é estudante e bombeira, logo receberia um rotundo 'Não!!' Afinal de contas: andamos a enganar quem?"

1 comentário:

pedro oliveira disse...

Ferreira Fernandes fala muito bem mas recordemos um texto dele de 2008:
«Num blogue, uma voz anónima: "Eu: Ah e tal, morreu o Dinis Machado... A minha mãe: A sério??? Eu, muito espantada: Conheces? A minha mãe: Claro! Ele pagava-te bolos na padaria quando eras pequena." De Dinis Machado, homem de um livro, o poeta Eugénio de Andrade disse do livro do homem: "Este é um livro de alegria." Em 1977 Portugal já estava solto de muita coisa quando um livro lhe libertou a palavra: O Que Diz Molero. Já outros (Nuno Bragança, Ruben A., Luiz Pacheco...) tinham minado a literatura engravatada mas foi Dinis Machado que veio por ali abaixo com o Gil Penteadinho e o Tonecas Arena e deu cabo dos camones. O Que Diz Molero feito, Dinis Machado, qual Salgueiro Maia, recolheu-se - os grandes capitães não ficam para os louros, fazem pelo gozo. A bloguista diz que, à pala da morte, "vou aproveitar para reler o livro". Faz sempre bem. Mas - vejam as frases iniciais que cito - ela já é uma filha de Dinis Machado, já escreve em liberdade.»
http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1131660
Refiro-o porque a pessoa que Ferreira Fernandes tem nome - Rita - e um «blog» perfeitamente identificado.
http://localprodutivo.blogspot.com/2008/10/o-que-diz-molero.html
Ou seja bem prega frei Tomás...